Uma garota de calça jeans apertada, cabelo longo, negro, ao vento e um rapaz “russinho”, magrela, de andar engraçado. Era essa a visão daquela velha senhora nordestina sobre as duas figuras que se aproximavam sorridentes ao seu encontro.
-Vó! Que saudade!!!
-Alice! Minha neta! Nunca imaginei ti receber aqui, na minha cidade...
A garota abraçou a senhora e apresentou o amigo, companheiro de viajem Jonas. Viajavam sem destino, mas certos de passarem pela pequena cidade onde a avó de Alice, Dona Biuzinha, morava. Alice já havia contado várias vezes às histórias da avó para Jonas, que morria de curiosidade de conhecer a senhora contadora de histórias...
-É seu namorado Alice?
-O Jonas, vó?
Os dois jovens riram, mal sabia dona Biuzinha das preferências de Jonas.
-Somos não vó! Somos grandes amigos! Desde criança.
Respondeu Jonas, já com uma voz mole. Dona Biuzinha, olhou e ficou olhando, quase entendendo a mensagem, mas não disse nada... Foram o caminho, rindo e conversando em direção a casa da senhora

O dia foi muito agradável, muitas risadas, comidas típicas e ao final ficaram na porta da casa, conversando e tomando café com bolo. Então Jonas desmunhecando, disse:
-Eu vou engordar horrores aqui! Aff...
Todos riram! E continuou falando, tentando segurar a “feminilidade”:
-Vó, me contaram uma história...
Dona Biuzinha, respondeu fazendo cara de quem sabia o que iria ser perguntado:
-“Fali meu fio”!
-É sobre a botija...
A velha senhora deu uma gargalhada e o “causo” rendeu até tantas da noite...

Quando todos se preparavam para dormir, Jonas disse afoito, mas decidido:
-Vó, leva a gente onde está enterrada a botija?
Alice riu, Jonas lia seus pensamentos, só podia!
A velha senhora olhou para os dois, os fitou por vários segundos e disse:
-Vou dizer onde fica. Mas vocês dois, vão voltar lá sozinhos a meia-noite! I Fazer o qui tem qui ser feito e se achar a botija, vão ter que sumir daqui, ouviram?
Na verdade os dois amigos não acreditavam na história, eram dois desacreditados com um grande espírito de aventura, eles queriam mesmo é “zuar”!

*****
O sol estava muito forte, já varava meio-dia quando chegaram ao local indicado pela senhora que se emocionou ao ver o lugar. Lembrou que o compadre morreu depois de anos, falando na aventura que tiveram e seu grande desgosto foi não ter desenterrado a botija.
-Oie, ocês da cidade grande, num sabe o que é escuridão, então tratem de trazer lanterna, lampião e tudo que alumine o caminho d’ocês. Ao morto só resta a esperança de salvarem sua alma...

E Dona Biuzinha tinha razão! O breu era total, quase doze horas depois! Difícil andar, mas a risada dos dois jovens aventureiros ecoava na escuridão da mata. Talvez rissem para disfarçar o medo, mas não demonstravam, nem falavam que sentiam. Alice disse:
- Que besteira ter que vir essa hora! Só não cavei naquela hora, para não chatear minha avó...
-Deixa de ser ranzinza Alice! Tá muito legal essa nossa aventura pelo meio da mata, na escuridão! Imagina um bofe... (um barulho interrompe)
Viraram as lanternas, era uma coruja, os dois voltaram a rir, parando logo em seguida quando se depararam com o local indicado por Dona Biuzinha, começando logo a cavar. Enquanto Jonas cava desesperadamente, Alice olha em volta, firmando a vista, vendo um homem a mais ou menos a 100 metros, parado na escuridão, olhando fixamente para eles... O coração de Alice dispara, o local era mal assombrado mesmo! As pernas tremem e Alice diz a Jonas:
-Jonas! Tem um homem olhando a gente!
Jonas responde afoito, nervoso e mais afeminado que nunca:
-Olha Alice, que fique só olhando! Por que eu não vou parar de cavar isso aqui nem se o Rick Martim aparecer aqui, na minha frente...
Alice tremendo, desvia o olhar do homem e começa a ajudar Jonas.
-Olha Jonas! Tem alguma coisa aqui! É tudo verdade mesmo!
Uma voz sai da escuridão:
-Eu caio! Eu vou cair...
Os dois levantam lentamente o rosto, a expressão era de horror. Na escuridão um vulto, que falava :
-Eu caio! Ta caindo...
E caiu um braço. Os dois gritaram!
Alice ia se levantando para sair correndo e Jonas a segurou.
-Amiga, chegamos até aqui, não desista agora!
Jonas tremia e Alice mal conseguia falar. Não olharam mais para a escuridão e voltaram ao buraco cavado. A voz continuou, dessa vez, com ajuda de outras vozes e uma ventania que começou do nada:
-Tá caindo, vai cair...( e o barulho de membros caindo era escutado pelos dois amigos)
Jonas, em um ato de desespero,
 levantou e gritou:
-Seu coisa ruim, pode cair até seu pinto aqui na minha cabeça, mas agora que comecei não vou parar! Cava Alice! Cava que não vou me cagar e mijar à toa!
-Achei Jonas! Um baú!
Os dois se ajoelharam e puxaram a caixa, abriram e todas as vozes, medos e pavores cessaram.
Estava desfeita a maldição...


1 Comentários

  1. Olá, querida Foly!!

    De volta ao Rio, depois de 19 dias fora, mas aproveitando para te desejar um Feliz Ano Novo, cheio de esperança, paz e amor em seu coração.
    E que 2011, possamos compartilhar de muitas e muitas postagens maravilhosas, como curtir aqui.

    Com todo caerinho

    Marcio RJ

    ResponderExcluir

Me conta sua história ou o que achou da minha